sábado, 21 de agosto de 2010

NAVEGAR É PRECISO

Olá a
todos,

começo hoje uma série (não sucessiva) de textos sobre um
dos meus hobbies: o modelismo. Neste texto, quero divulgar a modalidade do
modelismo talvez menos conhecida e praticada no Brasil, o
nautimodelismo.

Bom, o que é modelismo? A grosso modo, é a atividade de
recriar, em escalas menores, aviões, tanques, carros, navios, barcos, trens,
pessoas ou virtualmente qualquer coisa existente na natureza ou construída pelo
homem. O modelismo que recria aviões denomina-se aeromodelismo; e os que recriam
trens e carros chamam-se, respectivamente, ferreomodelismo e
automodelismo.

Existem duas categorias principais de modelismo - o
estático e o dinâmico. O estático, muito praticado por entusiastas da
miniaturização, sendo a modalidade mais conhecida o plastimodelismo, que
trabalha exclusivamente com polímeros, talvez seja o mais minucioso, atento a
todos os detalhes existentes nos objetos em escala cheia (1:1)
retratados.

O modelismo dinâmico, por sua vez, motorizado ou não, tem por
finalidade recriar, em escala, principalmente meios de transporte (civis e
militares) que se movimentam, principalmente por meio de rádio-controles. No
entanto, existem algumas submodalidades de aeromodelismo e nautimodelismo que
utilizam elásticos para propulsão, os VCC, e não usam motores.

Afunilando
mais ainda o ramo, dos modelos motorizados, existem os que usam motor à explosão
e os que usam motores elétricos. Quais seriam as diferenças fundamentais? Os
motores à explosão, conhecimentos por "glow", por conta do combustível especial
que utilizam, são utilizados em modelos (aero, nauti e auto) pesados, feitos de
madeira balsa, fibra ou outros materiais mais pesados. Para praticar o
aeromodelismo glow, por exemplo, é necessário procurar um espaço amplo, com
pista de pouso e decolagem, ou afiliar-se a um aeroclube (na cidade do Rio de
Janeiro existem 3). Esses modelos devem ser manuseados com extremo cuidado, o
aeromodelista precisa ter consciência dos riscos que a diversão pode trazer e
fazer de tudo para minimizá-los (um dia escrevo sobre esses riscos).

Por
outro lado, existe o modelismo elétrico - que usa motores que transformam
energia elétrica em dinâmica. Eu sou aero, auto, nauti e ferreomodelista, e
pratico apenas o modelismo elétrico. Por que razões? Em primeiro lugar, porque
os motores elétricos não poluem, e essa talvez seja a principal razão. Em
segundo, porque os motores elétricos utilizam baterias recarregáveis,
reaproveitáveis centenas de vezes, e por conta disso a manutenção da brincadeira
sai bem mais barata. Em terceiro, porque os modelos elétricos podem ser usados
em praticamente qualquer lugar, por serem mais leves (os aeromodelos elétricos
conhecidos como park flyers são feitos de depron, um isopor um pouco mais denso
que o normal), menores e menos perigosos. Em suma, se um avião elétrico cai, o
prejuízo pode chegar a, dependendo do modelo, R$ 700,00. Se cai um avião glow, o
prejuízo pode passar dos R$ 3000,00.

Voltemos ao nautimodelismo. O
modelismo é a recriação, em escala reduzida, de embarcações reais existentes ou
históricas, militares, mercantes ou esportivas, construídas a fim de se
reproduzir todos os detalhes de uma embarcação 1:1. No Brasil, a prática começou
na década de 1930, com Hely Bricio do Valle. Em 1945, o nautimodelista João
Avelino Sidov construiu 21 modelos. Em 53, Leopoldo Geyer encomendou ao
construtor Brício o modelo do veleiro Cayru. Assim começou de fato, no Rio de
Janeiro, a prática do nautimodelismo no Brasil. No Museu Histórico da Marinha no
Rio de Janeiro, está em exibição a Coleção Alves Camara com dezenas de modelos
de embarcações regionais que foram desaparecendo aos poucos com o surgimento da
ferrovia. Lá também é possível conhecer os modelos dos navios militares da nossa
frota. Em São Francisco do Sul, SC, encontra-se uma enorme coleção de peças de
modelismo naval no Museu Nacional do Mar.

Hoje, o nautimodelismo possui
diversas associações e grupos espalhados por todo o território nacional, mas
poucos em real e ativo funcionamento, o que é uma pena. Em São Paulo, no
Ibirapuera, existe o modelódromo para praticantes de várias modalidades de
modelismo, inclusive com um tanque de nautimodelismo.

No Rio de Janeiro,
o único tanque de nautimodelismo que conheci foi o do Aterro do Flamengo, que
nem sei se ainda existe (se alguém tiver alguma informação, avise-me por favor).
Por conta disso, só nos restam os lagos e poços da cidade e arrededores.
Praticantes de nautimodelismo se reúnem no Bosque da Barra, no Parque Guinle
(Laranjeiras), no Campo S. Bento (Niterói), na piscina do CEFET (Maracanã),
dentre outros lugares, mas falta no Rio uma associação organizada e disposta a
divulgar o hobby.

No nautimodelismo motorizado (que também pode glow ou
elétrico), existem 3 categorias básicas: os modelos em escala lentos, as lanchas
rápidas e os veleiros.

Esses modelos lentos, como o meu Bristol Bay
abaixo, reproduzem fielmente as embarcações reais e possuem navegação em
velocidade de escala, isto é, são bastante lentos para tentar reproduzir, em
escala, a velocidade com que seu representamen real navega. O meu
modelo lento é um barco pesqueiro inglês da Baía de Bristol, fabricado pela
Hobbico americana.






Esse modelo dispõe de um motor
brushed, com escovas, um tipo de motor elétrico bem parecido com os
motores de ventiladores e liquidificadores. Hoje, já existem os motores
brushless, sem escovas que, por terem muito menos atrito, desperdiçam
muito menos energia, são mais fortes e com mais empuxo, mas são usados, no
Brasil, quase que exclusivamente no aeromodelismo elétrico. As baterias
utilizadas são as NiCad (níquel-cádmio) ou NiMh (Níquel-metal-hidreto),
resistentes e armazenadoras de bastante energia (as mais fracas que tenho são de
1500 mili ampères), mas pesadas demais. Por isso, os aeromodelistas usam as Lipo
(Líon-polímero), mais leves, mas também mais perigosas. O barco possui ainda um
servo, nada mais que uma engrenagem de acionamento eletromecânico que faz o leme
virar para um lado e outro. Esse servo é ligado a um receptor, um dispositivo
eletroeletrônico que dispõe de uma antena que capta os comandos do
rádio-controle. No jargão modelista, o receptor é conhecido como Rx e o
transmissor (o rádio), como Tx. O rádio do nautimodelismo pode ser o tipo
stick ou pistola. O stick, abaixo, possui dois controladores
que se movem em todas as direções, é o modelo de rádio usado no aeromodelismo.
Cada direção de comando (cima-baixo / esquerda-direita) em cada stick é
conhecida como canal. Um aeromodelo que se preze precisa de, no mínimo, 3 canais
(explico melhor sobre isso quando escrever sobre aeromodelismo).


Aqui está o rádio do tipo
stick:



O tipo pistola, por sua
vez, é o que uso para esse modelo lento. Nesse caso, só preciso de dois canais,
um para o acelerador (frente e ré) e outro para o leme (esquerda-direita). O
gatilho da pistola é meu acelerador e o volante, meu controle de
leme.



Veja mais detalhes do
Bristol Bay:




A cabine de comando tem
até um capitão, o imediato (esse de gravatinha e cap) e um marinheiro. Como é um
navio pesqueiro, possui redes de pesca (feitas de rede de cabelo), tem bote
salva-vidas, um mergulhador atrás, duas velas, cordas e todas as amarras
necessárias. O navio é feito de madeira (casco) e fibra (convés). A hélice é
feita de cobre. Possui ainda várias lanternas e luzes de navegação que, acessas
à noite, o tornam quase uma árvore de natal flutuante.








Além do modelo em escala lento, existe
também a categoria das lanchas rápidas, formada de lanchas, catamarãs, trimarãs,
aerobarcos e afins. Minha lancha é uma Traxxas Blast, elétrica (claro), com uma
velocidade razoavelmente alta.





As lanchas possuem, além do Rx, do servo e
do motor, um outro dispositivo conhecido como Electronic Speed Control, ou ESC.
Ele é responsável por traduzir os sinais do gatilho do Tx para o controle da
velocidade. Em nautimodelos rápidos, a precisão do controle de velocidade é
muito importante, assim como nos auto e aeromodelos. Um atraso de uma fração de
segundo no comando pode significar a destruição total de um modelo. Ah, ali à
direita da lancha, vocês podem ver um amontoado de baterias NiMh.


Por fim, o nautimodelismo à vela. Essa é,
talvez, a categoria de nautimodelismo mais praticada no Brasil e no mundo. Os
modelos à vela não possuem motor, portanto também não precisam de um ESC. Em
compensação, possuem 2 servos, um para o comando do leme e outro, para o comando
de vela. O servo do comando de vela, através de amarras reproduzidas exatamente
como as dos veleiros reais, afrouxa ou aperta as velas para "caçar" o vento e
fazer o veleiro sair do lugar. Para controlar um veleiro rádio-controlado, o
modelista deve ter pelo menos uma noção de velas, dinâmica eólica, e noções de
navegação. Lidar com esse tipo de modelismo é uma ótima maneira de aprender
sobre navegação e passar a dominar o jargão técnico, desde termos simples como
proa, popa, bombordo e boreste, até os mais "técnicos", como cunningham,
boomjack, molinete, moitão, entre outros. O meu veleiro é da classe RG-65,
possui 65 centímetros de vela, ideal para ventos moderados.






Essa peça na parte
inferior do casco é uma quilha com um peso de chumbo que mantém a estabilidade
do veleiro. Quando o vento está forte demais, é o que não permite que o barco
vire.


Veja, finalmente, uma imagem da "casa das
máquinas" do veleiro, com servos e links:






Essa "gosma" que
reveste os servos é um lubrificante para evitar que o servo entre em contato com
a água. De maneira geral, todo nautimodelo precisa ser muito bem
impermeabilizado. Eu, por exemplo, "abrigo" as baterias (que, no caso do
veleiro, são 4 pilhas AA comuns) e o Rx com vários balões de festa.


Além desses modelos, existe obviamente uma
infinidade de variações - os navios de guerra com canhões que soltam água,
réplicas rádio-controladas do Titanic, de vapores brasileiros, veleiros de quase
2 metros de altura, aerobarcos gigantes etc. Tudo depende do bolso do freguês e
do entusiasmo pelo hobby.


De todas as modalidades de modelismo, eu
considero o nautimodelismo a mais "tranquila". É ótimo levar meus modelos para
um laguinho qualquer e ficar conversando com amigos, passando tempo enquanto os
controlo pra lá e pra cá, faço manobras, passo por obstáculos etc.


Por fim, "tenho um filho de 8 anos, é
aconselhável comprar um modelo desses?" A resposta é "infelizmente não". O
modelismo é um hobby para adultos. Os modelos que compramos raramente vêm
prontos para o uso, é preciso montá-los, soldar, entender de eletrônica e
eletricidade (no caso dos modelos elétricos) e de mecânica (no caso dos modelos
glow). A prática requer uma certa paciência (demora bastante até você ficar
satisfeito com o navegar do seu nautimodelo ou com o planeio do seu aeromodelo),
além de um certo treinamento, se você não quiser destruir modelos relativamente
caros por bobeira. Para as crianças, existem os brinquedos de controle-remoto.
Estes não podem ser considerados modelos, por conta da simplicidade de recursos
eletrônicos e mecânicos, mas são uma ótima maneira de inciar a criança nesse
hobby. Esses brinquedos são encontrados em lojas de brinquedos; os modelos
profissionais, em lojas especializadas. Aqui no Rio recomendo a KnKhobby, a
BigField e a Asas Elétricas.


É caro? Pode ser - ou não. Como eu disse,
depende da qualidade do equipamento que você quer ter. Talvez o nautimodelismo
seja, das modalidades de modelismo que pratico (aero, nauti, auto e ferreo), o
mais barato. Geralmente, os equipamentos mais caros são os Tx. Os modelos em si
não são tão caros. E lembre-se sempre que existem dezenas de fabricantes de
peças eletrônicas e mecânicas, com os mais variados preços e
qualidades.


Há também quem goste de construir seus
próprios modelos, o que quase sempre fica mais barato, mas requer uma paciência
de Jó. Um dia também escrevo sobre isso.


Surgiu interesse? Escreva-me um comentário
que terei o maior prazer em auxiliá-lo. Estou em campanha para arregimentar
novos nautimodelistas no Estado do Rio, para não deixar esse hobby tão sadio e
instrutivo morrer ao léu.


Grande abraço,


Rafael
Lanzetti

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